Suicide Club e o Terror Contemporâneo

07/04/2020

RESENHA 

Recentemente estamos vendo uma mudança brusca nos filmes de terror: cada vez mais eles têm se aproximado do drama, introduzido temáticas sociais e se afastando de cenas de ação seguidas de sustos. Podemos ver em Corra! uma família branca como a vilã. Por ser um filme produzido por um diretor negro, Corra! introduz o medo do racismo que Jordan Peele sente. Em Bird Box a diretora Susanne Bier nos mostra uma protagonista desconfortável com a maternidade. Suicide Club é sobre isso também: mostrar medos concretos.

Suicide Clube é um mangá de volume único produzido pelo mangaka Usamaru Furuya e publicado aqui no Brasil pela editora New Pop. A obra é indicada para maiores de 18 anos por ser um suspense de teor psicológico em que 54 garotas se atiram ao mesmo tempo na frente do metrô, causando enorme comoção pública. Ocorrem outras mortes que parecem serem suicídios mas que no final ficamos sabendo que não foram. Em vários quadrinhos aparecem cenas de automutilação e prostituição, além é claro dos corpos mutilados pelo trem na cena inicial.

É com a cena do metrô que começa o mangá. No entanto houve uma sobrevivente, uma garota chamada Saya Kota, cuja história nos é contada através de uma amiga sua, Kyoko. Kyoto nos conta que no passado ela é Saya eram melhores amigas mas as coisa foram mudando depois que o pai de Saya teve um colapso nervoso e Saya começou a se prostituir (acredito que seja para poder se sustentar financeiramente já que o pai estava incapacitado, mas essa questão não fica bem clara no mangá). Kyoto passou por um momento feliz de sua vida, conheceu um rapaz por quem se apaixonou, se esquecendo completamente de apoiar Saya no seu momento mais difícil. Enquanto Kyoto vivia o seu romance, Saya conhece uma garota chamada Mitsuko que a convida para fazer parte do clube no qual liderava. Neste clube Mitsuko mandava as garotas se mutilarem, indicando que teria sido ideia dela que todas pulassem na frente do metrô.

Apesar de carregar no título a palavra suicídio e a História girar em torno disso, não é o suicídio em si que amedronta mas o fato de haver pessoas que acreditam cegamente e seguem fielmente um líder carismático. No pósfacio do mangá o autor comenta que gosta de histórias trágicas sobre grupos liderados por uma pessoa com carisma absurdo e que nunca fez parte de um grupo, apesar de achar legal, nunca conseguia se enturmar direito. É sobre esse medo do coletivo apagando nossa identidade individual, que se trata a obra. Uma cena que ilustra bem essa questão é quando Kyoto, após ser drogada e sequestrada pelas gurias do club, tem um pesadelo em que aparecem várias garotas, inicialmente sem rosto, para depois surgirem todas com o rosto de Mitsuko perguntando como ela sabe que é ela mesma.

Os quatros primeiros capítulos seguem a lógica de ir mostrando Flash backs das protagonistas, enquanto mostra a investigação sobre o Club e os sucessivos homicídios (que parecem suicídios) relacionados a ele. Nos dois últimos capítulos vemos uma Saya em colapso após ser descoberta e o Nascimento de uma nova Mitsuko. Aliás esse é um outro ponto relevante: a líder do grupo não se chamava Mitsuko, e sim Yuko Suzuki. Antes de liderar o clube ela fazia parte de um outro clube suicida liderado por Keiko Tada que se autodenominava Mitsuko. Mitsuko é o nome/identidade que as sobreviventes herdam para dar continuidade ao club.

Por ser um mangaka num país onde mais se comete suicídio, Usumura usa isso como um pano de fundo para a História, visto que é uma história sobre repetir o que os outros fazem. Apesar de o suicídio ser um medo concreto atualmente, não me parece que o autor busca um debate profundo sobre o assunto (convenhamos, um suicídio coletivo de 54 garotas é bem surreal). Acredito que Suicide Club mostra um medo de perder nossa identidade e de viver preso num ciclo vicioso. Fala sobre sermos livres para pensarmos por nós mesmos e não sair fazendo tudo o que os outros mandam fazer. Mas se caso vocês lerem este mangá, faço minhas as palavras de Usumura Furuya: "por favor, nem pensem em se suicidarem".

FEITO POR FERNANDA MACHADO

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